Marshmallow 2025
Marshmallow. Direção: Daniel DelPurgatorio. Roteiro: Andy Greskoviak. Produção: Hemlock Circle Productions. Estados Unidos, 2025. [Duração: 94 min]. Filme.
Escolhendo filme pela Capa
Desde alguns anos atrás eu tenho optado por confiar mais nos meus instintos na escolha de filmes. Não quero dizer que sou um cinéfilo gourmet que só consome cinema de arte, na verdade estou bem longe disso. Mas tenho feito escolhas de filmes como costumava fazer na época das locadoras de VHS e DVD: tenho decidido pelo filme pela capa, ou melhor, pelo poster do filme.
Tenho três strikes para o filme, o primeiro é o poster ou a capa do filme. Se for boa o suficiente em transmitir o que o filme propõe, eu nem chego a ler a sinopse ou ver o trailer. Já coloco o filme para assistir para ter uma experiência mais imersiva.
Se a capa me despertou interesse, mas não tenho certeza de qual tipo ou nível de qualidade do filme, eu me ponho a ler a sinopse. Nisso, tenho que admitir, às vezes ainda vejo algumas sinopses mais confusas, principalmente nos filmes de língua não inglesa. Pois as traduções de sinopses de outros idiomas tendem a ser bem confusas.
Se a sinopse me interessou, parto pro filme. Se ainda não me convenceu completamente, aí sim, eu vejo o trailer do filme para confirmar minhas suspeitas sobre o que o filme trata, de qual maneira e o que esperar da obra.
No geral, posso afirmar que tenho aperfeiçoado o instinto de julgar um filme pela capa.
De qualquer maneira, esse comportamento de escolha de filmes tem que rendido excelentes surpresas nos lançamentos dos quais não ouvi nenhum burburinho em nenhuma das minhas bolhas cinematográficas. Claro, há exceções, mas em sua maioria tenho sido surpreendido positivamente.
Slashers
Já gostava muito de filmes de terror slasher, desde muito jovem. O primeiro filme de terror que eu assisti foi A Hora do Pesadelo em alguma sessão de filmes da TV aberta (provavelmente no SBT). Porém, recentemente, tenho me dedicado com mais entusiasmo por esse subgênero pois almejo retomar a escrita do meu romance com essa temática.
Nesses últimos anos tenho consumido quase todos os lançamentos que se enquadram nessa categoria de filme. Também tenho assistido todos os clássicos, cults e as mais obscuras obras do cinema slasher que a maioria das pessoas nem imaginam. Nesses últimos anos, assisti, literalmente centenas de obras. Às vezes chegando a assistir dois filmes do gênero no mesmo dia. Não vou me considerar um especialista, mas posso afirmar que sou um grande conhecedor desse estilo de filme.
Posso dizer que tenho gostado bastante das experimentações com o subgênero que estão aparecendo nessas últimas décadas. Principalmente a mistura entre gêneros. Como o Happy Death Day (2017) que mistura slasher com loop temporal ou o mais recente Heart Eyes (2025) que se aproxima de uma comédia romântica. Freaky (2020) com o tropo da troca de corpos entre Final Girl e Assassino e Totally Killer (2023) usando viagem no tempo muito ao estilo de De Volta para o Futuro. Até o inovador In a Violent Nature (2024) que trouxe uma perspectiva do assassino para a narrativa, apesar de bem lento em algumas cenas.
É por isso que o poster de Marshmallow (2025) me pegou, a imagem automaticamente me remeteu a algo como um slasher com ficção cientifica, se posso dizer isso. Me transmitiu uma vibe mais assassino alienígena do que um maníaco do machado, típico de filmes do gênero nos anos 80.
O protagonista, Morgan, é um adolescente que sofre com pesadelos com água fruto de trauma profundo de afogamento. Ele ganha um canivete do avô que está tentando o convencer a ir para um acampamento de verão (outro clichê do subgênero slasher usado e abusado ao extremo e que sempre é subvertido nas obras que recontam histórias do mesmo estilo). E o canivete é a “única lembrança” do avô, que acaba morrendo logo em seguida de dar o presente
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Então Morgan vai para o Camp Almar, cujo lema é “Come do Grow” (venha crescer), a jornada até o local é uma alusão a cena clássica de The Shining (1980) mostrando a jornada em meio as florestas em um take aéreo mostrando o isolamento do local (se eu ganhasse um dólar por cada vez que eu vejo essa cena em algum filme…).
Tudo é absolutamente clichê, de forma propositalmente suspeita. Conselheiros drogados e interessados mais em sexo do que em cuidar das crianças. E apesar de vermos tablets rapidamente, nada mais é mostrado que traga o camping para o período atual, podendo ser ambientado nos anos 80 facilmente se o espectador não prestar atenção aos detalhes, como se o filme pudesse ser ambientado em qualquer período recente.
Tendo sido obrigado a dividir a cabana com CJ, um conhecido da família que é um bullying insuportável, Morgan já é posto a prova no camping quando o primeiro teste de apresentação é mergulhar no lago para que as habilidades de natação sejam avaliadas, e ele como tem um trauma de afogamento, naturalmente, sofre bullying pelo seu colega de cabana, CJ. Porém nisso ele conhece “seu interesse amoroso” na forma da jovem Pilar, uma jovem que se aproxima dele casualmente. E depois ele se aproxima de Dirk e através dele forma o clube dos perdedores, outro clássico tropo dos jovens deslocados socialmente que acabam se unindo.
Depois temos uma cena em volta da fogueira onde é contada a história do “Doutor” que tinha como sua moradia de verão o local que agora é o Camp Almar, e onde ele executava experiência de alteração corporal macabras. Outro típico tropo do subgênero onde o assassino é apresentado para o público.
Depois vemos um aprofundamento da relação de Morgan com CJ, onde o bullying chega a extrapolar vários limites. Mais traumas do protagonista com a água são reforçados juntos com sonhos dele com seu avô que, aparentemente, está tentando lhe transmitir uma mensagem.
A partir da metade o filme começa a se revelar como um típico slasher onde o “Doutor” da história contada em volta da fogueira aparece e age como deveria agir um assassino de um acampamento de verão.
Não vou dar mais spoiler do que eu já dei até aqui. Mas quero deixar claro que esse filme foi uma grata surpresa nos filmes de 2025, e que a minha intuição sobre o pôster não foi sem sentido.
A trilha sonora é bem focada em sintetizadores, os efeitos práticos são muito bons. O assassino é bem caracterizado e os conselheiros do camping também não deixam nada a esperar de outros conselheiros de outras histórias também ambientadas em acampamentos de verão como Sleepaway Camp (1983), The Burning (1981) ou qualquer um dos clássicos Friday The 13th.
No final é um filme com uma história que usa e abusa dos clichês e tropos do subgênero slasher com um twist que traz uma renovação à estética e a forma para as obras desse estilo. Não acho que seja um filme incrível e imperdível para o público em geral, mas e você gosta de ser surpreendido por um bom slasher, esse filme é pra você.