Dando continuidade ao projeto de ler os livros que já possuo para depois trocá-los, vendê-los ou doá-los com o intuito de liberar espaço na estante para novas aquisições, segue a mais recente leitura com um review:
Cão Mascarado - Raymond Obstfeld
Publicado em agosto de 1986 pela Gold Eagle, Cão Mascarado mescla elementos de suspense, espionagem e até horror, com diálogos afiados, personagens interessantes e uma atmosfera intensa típica dos pulp thrillers da década de 1980.
A versão que eu li é da Editora Nova Cultural com publicação em 1988 e tradução de Vera C. P. Limongi (e eu não pude deixar de imaginar que ela talvez tenha alguma relação com a empresa Limongi que fabrica um refrigerante Gengibirra que eu adorava).
As histórias que mais se proliferam nessa época, principalmente nos pulps americanos, era a temática da Guerra Fria e os confrontos entre espiões e agentes secretos que tanto povoaram as mentes dos leitores. Parece que a década de 80 foi o ápice dessas histórias focando na Guerra Fria, como se tudo já estivesse se encaminhando para a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética logo em seguida. Então, produziram muitas coisas com essa temática como se a fonte dessas histórias já estivesse prestes a ser encerrada. Eu cresci nessa década, então consumir histórias com essa temática é algo comum.
Logo nas primeiras páginas já vemos a clássica cena de um escritório do FBI recebendo uma informação super-secreta e criptografada sendo necessário o uso de um supercomputador chamado aqui de “Meninão” para decifrá-la. Logo depois essa mensagem chega à mesa de um chefe típico dessa época, carrancudo e com algum passatempo incomum. Ele logo chega a conclusão que precisa de uma pessoa específica para o caso, alguém com quem ele trabalhou sete anos atrás.
Personagens Principais
Gifford Devane – O “Cão Mascarado”
Um pediatra pedófilo que também gostava de espancar a esposa no tempo livre é preso e sem mais nada a perder se oferece como cobaia em um experimento da CIA que visava criar soldados sem medo, como já haviam testado em ratos de laboratório.
Porém o experimento tinha alguns efeitos colaterais ainda mais notáveis: Além da cobaia perder completamente o medo, também deixava de sentir dor física, ganhava uma força sobre-humana e memória fotográfica.
Belo personagem, não?
Price Calender
Agora sendo uma história dos anos 80 quem seria a melhor pessoa para ajudar a capturar um super vilão como Devane? Claro que nosso protagonista só poderia ser um ex-astro do rock. OK, Price não foi bem um astro, mas teve seus sucessos nas paradas. Ele se casou com uma mulher e depois descobriu que ela apenas queria se aproveitar de suas viagens em turnês para traficar drogas usando a própria filha como disfarce.
Calender (inclusive, tem uma cena inevitável com um trocadilho com o nome dele com calendar) quando descobre que a sua esposa o usou, e pior, usou a filha para os esquemas, ele perde o controle e atropela a (ex-) esposa, acreditando que a matou.
Ele então adota a menina e a cria como se fosse dele próprio.
Jo Montana
A agente de campo Jo (sem o “e”) Montana tem uma origem sofisticada e acaba se tornando o interesse romântico do protagonista, Price. A dinâmica entre os dois rende alguns momentos engraçados e adiciona uma certa leveza à obra.
Liza R.
Ex-esposa de Calender e espiã da KGB, fingiu sua morte com a ajuda dos soviéticos e continuou trabalhando para eles ou para quem pagasse mais prestando seus serviços de assassina e espiã. Seu egoísmo beira o robótico em algumas partes.
Enredo e Estrutura
Nada muito original, mas relevamos isso por se tratar de uma obra de sua época.
O projeto secreto dá errado, a cobaia foge e a agência do governo precisa de ajuda de alguém que já ajudou no caso antes. Aqui é o clássico tropo de “tirar o agente da aposentadoria”, só que no caso Calender não é bem um agente.
Em liberdade o nosso vilão, Devane, busca se vingar daqueles que o prenderam e, conforme vai sendo mostrado aos poucos na história, Calender é um dos principais alvos e a agência do governo o está usando como isca para parar o Dr. Devane.
Devane, por outro lado, está procurando uma maneira de ganhar dinheiro e como suas novas habilidades o transformaram e um super-homem, ele vai se tornar um assassino profissional e para isso promete matar uma importante personalidade internacional como prova de sua capacidade e apresentação de currículo para o submundo do crime internacional.
A KGB por outro lado, está interessada na cobaia do Projeto Cão Mascarado, pois deseja replicar o experimento e gerar seus próprios super-agentes.
O desenrolar da trama é bem ágil com mudanças de cenas úteis para o avanço da história, mas não espere soluções geniais ou reviravoltas criativas, a estrutura da história é bem linear e se desenvolve em uma sequência de eventos bem clara.
Conclusão
Cão Mascarado é um exemplo do tipo de thriller pulp que fez muito sucesso nos anos 80. Com influências de 007 e outras obras de espionagem, tem um humor de época que hoje, com certeza, seria considerado incorreto. Um misto de horror, uma feliz que o vilão já era um monstro abusador de crianças antes de se tornar uma um super-assassino.
É uma leitura rápida e descompromissada para os fãs de anti-heróis extremos e narrativas envolvendo o típico cenário de espionagem da Guerra Fria com experimentos ilegais.